quarta-feira, 4 de abril de 2012

Entrevista: Brutal Morticínio


Polêmico Rock - Obscuras saudações! Um prazer enorme ter o Brutal Morticínio em minhas páginas! Portanto, para dar início ao nosso bate papo, comece falando um pouco da história e da proposta do Brutal Morticínio.

Tormento - Saudações a todos do Polêmico Rock, primeiramente gostaria de agradecer o espaço cedido pelo seu profano zine a nossa horda. O Brutal Morticínio iniciou a sua existência em 2006, na cidade de Novo Hamburgo/RS. Foi formada por mim e por Mielikki com o intuito de tratar a respeito de temas voltados ao anticristianismo, a história da América Latina, guerras, conflitos justamente para desmistificar aquelas versões a qual nos tratam como dóceis e que aceitam facilmente a dominação. No momento que paramos para estudar a fundo a nossa história, verificamos justamente o contrário que ela é marcada pela violência e pela luta contra os nossos opressores cristãos. A horda já possuía as músicas prontas, com exceção das instrumentais do material, quando Mephistopheles entra em 2008 na bateria. Como conseqüência, colocamos em prática a gravação do nosso primeiro registro em 2008: “Despertar dos Chacais... O Outono dos Povos”. Após um longo período com Mephistopheles na bateria, em 2009/2010/2011 passamos por diversas tentativas de estabilização, chegamos a ter na formação, duas guitarras e teclado por poucos meses. Em meados de 2011 havíamos iniciado a gravação do “Obsessores Espíritos Das Florestas Austrais” (novo álbum anteriormente previsto para o início de 2011). Porém, esta primeira gravação foi descartada já que passamos por mudanças na formação e tivemos que readequar os sons para novamente um trio, de forma que não fosse perdida nossa expressão. 

Atualmente estamos atuando com bateristas convidados, que também se tornaram grandes amigos. O novo material estamos gravando Francis Pedrolo. Além disso, gravamos as duas faixas bônus para o relançamento do “Despertar Dos Chacais; O Outono Dos Povos...” com André Rodrigues (Evil Emperor), o mesmo baterista que atua nos shows conosco. Partiu dele também a idéia, bem como toda organização para o relançamento, ao contrário do que se possa pensar por ser “convidado” ele tem grande contribuição na horda.

 Polêmico Rock - Embora, em termos sonoros, vocês executem um Black Metal tradicional, posso observar entrelinhas algumas pequenas influências de Depressive/Suicidal Black Metal, com temas e natureza negra, bem típico de bandas como Mütiilation (França). Me digam se estou certo, e comente um pouco sobre suas influências, ou seja, bandas e elementos que os influenciaram.

Tormento - Sim você está certo, no início quando construímos a horda costumávamos ser mais assíduos ouvintes de hordas da antiga escola do Black Metal e também muitas bandas do Thrash antigo. Já Mephistopheles baterista da banda da época também carregava forte influência do Thrash/Death. Com o passar do tempo e as mudanças que tivemos na formação, bem como todas as experiências foram contribuindo para que passássemos a ouvir um pouco mais de bandas voltadas ao Depressive Black Metal e de alguma forma será perceptível principalmente nas músicas novas, uma mescla de todas estas influências (Thrash/Black old e DSBM), porém maior das bandas dentro desta linha como o próprio Mütiilation (França) e da escola iraniana de Depressive Black metal. Acima de tudo, acreditamos também que a sonoridade deve refletir os sentimentos que são passados pela letra então. Tentamos transmitir estes elementos de ódio, angústia/agonia quando executamos os sons, pois é exatamente isso que sentimos quando paramos para pensar e escrever nossas letra. 

Polêmico Rock - O que eu pude ver até agora, foram letras cantadas somente em português. Por que isso? Alguma espécie de crítica, ou por que simplesmente se sentem bem cantando em português? Me fale um pouco sobre esta questão.

Tormento - A escolha por cantar em Português, o nosso idioma, também surgiu quase que de uma forma espontânea, é também um hábito entre as hordas de Black Metal de nossa região. Acredito que também seja muitos mais real quando versamos e cantamos em nosso idioma, para o público que está presente, seja nos festivais seja ouvindo o nosso som compreenda na totalidade o que estamos tentando passar e o que estamos defendendo. É interessante a pergunta, pois isso sempre acaba por causar uma estranheza, e acaba soando como mais um sinal de protesto. Entretanto vejamos, já cansei de ouvir bandas com músicas em alemão, finlandês, norueguês e outras línguas diversas do inglês. O que fica legal, pois é o idioma nativo destas bandas, mas acredito também que, nós brasileiros, não ficamos devendo em nada para estes caras e temos sim que ter orgulho de nosso idioma, de nosso povo e de nossa história. Por mais que tenhamos questões históricas, a língua portuguesa já faz parte de nossa cultura e foi adaptada nos diversos sotaques e regiões.

Polêmico Rock - Vocês me falaram que estamos chegando perto de um novo lançamento do Brutal Morticínio. O que podemos esperar de diferente neste novo disco, com relação ao “Despertar Dos Chacais ... O Outono Dos Povos”? Qual a previsão de lançamento?  

Tormento - O álbum deve soar mais melancólico e mais voltado ao metal negro que o anterior. As letras possuem um conteúdo mais profundo, mesmo que de forma subjetiva em algumas delas. Já citando o nome de algumas músicas que estão prontas esperando a finalização: “Evocando Os espíritos Obsessores Das Florestas Austrais” (faixa que dá nome ao álbum); “Densas Neblinas Das Profundezas”; “Não Darei A Outra Face”; “Vingança Ancestral”; “Gélidas Lápides Da desolação”; “Eu Cadáver Da Civilização”. 

Neste segundo álbum, “Obsessores Espíritos Das Florestas austrais”, contou com problemas na formação, ou seja, começamos a gravar com uma formação com os arranjos e músicas que necessariamente precisavam ser mudados por conta da mesma. E após as recentes mudanças no fim do ano passado, novamente, para que reflita de fato, o nosso pensamento e nossa sonoridade na atualidade. Tínhamos a previsão de lançamento para o final de 2011, entretanto com estas dificuldades que ocorreram no caminho planejamos lançar o disco até meados deste ano, para isso ainda estamos terminando as gravações. E, além disso, estabelecendo as parcerias que são necessárias para o lançamento de um disco no cenário underground.

Polêmico Rock - E uma de nossas conversas, você também abordou sobre a questão do relançamento deste full-lenght de 2008. Como e por que lhe ocorreu a idéia de relançá-lo?

Tormento - Em paralelo as gravações do “Obsessores espíritos das Florestas austrais” surgiu à oportunidade deste relançamento do “Despertar dos Chacais... O Outono dos Povos”. André Rodrigues nos trouxe a idéia, de início ficamos meio indecisos já que estávamos trabalhando no novo material, mas logo achamos muito boa a idéia. Logo após, André Rodrigues veio nos comunicar que estava já trabalhando o relançamento em conjunto com várias distros. O relançamento do álbum desta vez prensado e com uma tiragem ainda maior (1000 cópias) do que originalmente. A previsão deste relançamento é entre fevereiro e março deste ano. O disco contará ainda com músicas inéditas, algumas que integrarão o segundo álbum e uma licenciada pela Belial Records de “My Soul Burns In Hell” (Amen Corner), a mesma qual participamos do tributo oficial da horda.


Polêmico Rock - Como tem sido a aceitação do som e da proposta do Brutal Morticínio ao longo dos anos?

Tormento - Nossa impressão é de que a aceitação tenha ocorrido de maneira bastante positiva. Acreditamos que a função que a música exerce está claramente dentro de nossos planejamentos. É lógico, que como nos propomos a existir e ser parte do underground, o que na nossa concepção torna a arte mais verdadeira e sem a interferência de fatores externos. Entretanto, o nosso alcance é pequeno, ou seja, sempre estaremos trilhando e discutindo nossos conceitos/preceitos o que realmente é interessante, pois sempre nos lembramos de onde viemos, quais são as nossas propostas originais, o que podemos melhorar e o que é que queremos. É muito prazeroso conversar com as pessoas que curtiram o som e curtiram as letras, sempre é algo para continuarmos indo em frente. Até mesmo escutar as críticas e verificar quem as fazem, pois também é sempre prazeroso mexer nas feridas daqueles que tem nos subjugado há tanto tempo.

Na parte sonora no nosso full lenght, nos propomos a fazer algo voltado ao metal do início dos anos 80 desde a cadência do som, até mesmo a gravação que pedimos para o Sebastian Carsin (estúdio Hurricane) fazer com que soasse “mais old, menos cristalino”, o que o pessoal acabou não entendendo, achando que o material tinha problemas técnicos na gravação etc. Acredito que este seja o único registro de que não fomos bem interpretados em nossa proposta. Estamos preparando o próximo álbum, mas não faremos grandes modificações em qualquer destes sentidos, pois acreditamos que o tipo de gravação também exprime o sentimento e a intenção que queremos passar com este ou aquele som.

Polêmico Rock - Como acontece o processo de composição das músicas de vocês no âmbito instrumental? Tudo acontece naturalmente no ensaio, ou alguém em específico é o responsável pela composição?

Tormento - Eu diria que boa parte ocorre naturalmente em casa no violão! Normalmente as músicas são compostas por mim mesmo (salvo uma que outra base composta por Mielikki). A criação ocorre de maneira, mais ou menos espontânea, entretanto dificilmente ocorre nos ensaios elas seguem mais ou menos um padrão, feitos por partes na guitarra, depois o baixo e em seguida é encaixada a letra, passando sempre pelo crivo de Mielikki. Essa composição original, no entanto normalmente é feita na madrugada, acho que a inspiração flui com maior naturalidade nesse momento.

Polêmico Rock E no âmbito das letras? Como acontece este processo de composição?

Tormento - As letras ocorrem também mais ou menos da mesma forma, a grande maioria é feita por mim, Mielikki fez algumas. Mas de qualquer forma ambos temos sempre algo acrescentar na de um ou de outro. Quando elaboramos as bases escutamos o que tipo de coisa ela está nos passando e direcionamos os assuntos conforme isso. Por vezes fazemos algumas pesquisas quando precisamos de alguma parte mais técnica ou para que ela tenha um entendimento mais claro, outras vezes a base mais ou menos já esta versando a letra e simplesmente a colocamos lá. Como na Brutal Morticínio há um direcionamento de temática tanto lírica quanto musical estamos engessados, mais ao mesmo tempo é muito bom e muito fácil de compor em cima disso. Além disso, acreditamos que há muito ainda para ser feito dentro desta linha e temas não nos faltam.

Polêmico Rock - Existe algum elemento como livros e/ou filmes que os ajudam no processo de composição das letras?

Tormento - Não há nada muito específico para isso, muitas vezes filmes ou livros são inspirações, mas na maioria das vezes indireta. Como eu e Mielikki somos historiadores estamos quase sempre olhando e pesquisando os assuntos de nosso interesse, que remetem ao tema em si da horda. É lógico que por vezes queremos falar de algum assunto um pouco mais específico e por isso usamos de forma um pouco mais “científica” estes livros para as nossas composições, mas na maioria das vezes mesmo os nossos autores e filmes favoritos servem apenas como inspiração indireta.

Polêmico Rock - Com relação a arte da capa de “Despertar dos Chacais ... O Outono dos Povos”, podemos ver uma arte bem obscura e rudimentar, enfim, muito eficiente dentro do que se propõe. De quem foi a idéia de fazer aquela arte? Quem a desenhou?

Tormento -A idéia inicial foi minha e de Mielikki discutindo sobre a capa do álbum, acreditamos que as árvores secas nos remeteriam a idéia de um clima de outono e também a idéia de invasão e destruição do que era nativo. Quem elaborou o desenho, que na verdade virou uma pintura, foi um camarada nosso chamado Bill, que ainda acrescentou a idéia original do título do álbum o outono dos povos e conseguiu incluir de maneira bastante interessante formas de cadáveres nas árvores secas, sintetizando a idéia de invasão e destruição a idéia de aculturação ou mesmo de destruição das populações que por aqui viviam. Um detalhe interessante do artista é que ele ouviu as músicas que estavam em fase de mixagem para elaborar a arte, segundo o mesmo para dar uma idéia de complementação da obra com a capa. Nós ficamos bastante satisfeitos com o trabalho em si de arte, o álbum conta ainda com a imagem que é uma releitura da imagem clássica das chegadas dos europeus nas Américas, ele criou a releitura com caneta nanquim de uma forma muito interessante.

Polêmico Rock - Como você vê o underground brasileiro hoje?

Tormento - A primeira coisa que acredito que não podemos fazer é generalizá-lo. O underground é composto de uma grande diversidade. Podemos observar desde os reais lutadores da cena, que realmente apóiam as bandas independentes de seu tamanho quando percebem que estão diante de algo novo ou com um grande conteúdo. Pessoas inocentes que ainda não conseguem conceber a dimensão em que estão metidos e é claro aqueles que só estão metidos nisso pela grana, não perdendo a oportunidade de tirar proveito de bandas, zines, distros e etc. Sabemos muito bem que sites de notícias ditos underground, boicotam certas bandas, divulgam mais outras vinculadas por motivos claramente financeiros, ou oportunizam maior destaque para bandas gringas pelo mesmo tipo de vínculo. Além disso,  todos os problemas que também se fazem presentes em qualquer meio social. Escutamos e apoiamos bandas nacionais com maior ênfase, as bandas brasileiras que para nós não ficam devendo em nada para as ditas “gringas” dos países onde há uma elite já consolidada. Inclusive em alguns meios de informação undeground referentes ao metal fora do país, não é de hoje que o Brasil já fez seu nome e tradição no metal.

Polêmico Rock - Gostaria que vocês deixassem uma mensagem para os fãs do Brutal Morticínio, contato para shows, MySpace, etc.

Tormento - Gostaríamos de deixar claro que tudo o que fazemos sempre é muito real e no que fielmente acreditamos, desde a sonoridade até cada palavra das idéias que dissemos nas entrevistas, músicas,etc. Acho que isso é o que nos faz diferentes e mais livres desta sociedade podre e decadente. O que buscamos fazer além de nos expressar, é dar o último empurrão nestas estruturas velhas e desgastadas das Igrejas e do Estado. Seguem os links para quem quiser conhecer um pouco melhor o Brutal Morticínio:

Polêmico Rock - Agradeço muito a participação de vocês aqui, e saibam que é sempre um enorme prazer tê-los aqui. Fiquem a vontade para retornar quando quiserem! Obscuro abraço!

Tormento - Gostaríamos, mais uma vez de agradecer o espaço que dedicou a Brutal Morticínio. É sempre um prazer responder as entrevistas dos zines blogs e demais propagadores do metal extremo que realmente entendem do que estão falando e procuram se interar sobre os temas que estão sendo abordados.

Longa vida ao Polêmico Rock!

Força e Honra.

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